quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Boca de fome

Acende o cigarro.

Olha pela janela a rua, vazia, molhada pela chuva. Nota a marca mais clara que ficou dos carros que já partiram, e que é o último a ter luz no quarto. Apoia-se no parapeito, chora... em silêncio. Queria ser um escritor, um cineasta, estrela pornô, pai de família, um qualquer, mas ainda assim sobra-lhe o apetite. É só disso que se trata, do apetite, sem fim, que lhe mastiga as boas idéias antes que surjam.

Dói-lhe o estômago. Sente fome.

Mas é só disso que se trata, do apetite. Já não quer ser nada do que pensara. Quer ser músico, artista plástico, professor, carpinteiro.

Senta-se na velha poltrona. Acende outro cigarro. Pede para a puta outra deitada. Sente-se só, tem saudades, é o último a ter luz no quarto. Pede a ela, gentilmente, que se vá. Repousa os olhos cansados em sua nudez "vejo-te amanhã?" suspira... "São 400 reais por hoje, posso vir amanhã se desejar". Já não a quer, diz que tudo bem, mas vai ligar para outra.

É só disso que se trata, do apetite, sem fim, que lhe consumiu por mais uma noite voraz.

3 comentários:

zé disse...

o melhor dessa safra.

sempre é a nossa luz a última a se apagar.

Roberta disse...

adorei arturzete.

e tu muleque,tu escreve muito.
um dia a gente ainda sai pra tirar umas fotos e escrever umas besteirinhas!

Anônimo disse...

maldito apetite!
pelo menos sei que n sou o único nessa mazela!
ÓTIMO texto.
Bom mesmo.
Passei aqui pq vi uns comentários seu lá no blog do ARON
Valeu a pena.
Vou te linkar, blz?
Abraço!